A televisão não sabe ouvir o que o público quer
Nos últimos meses muito se discute sobre a mudança no perfil do telespectador e a necessidade de se desenvolver uma programação que atenda a nova classe C, a que representa um pouco mais da metade da população do Brasil. Várias ações foram adotadas nesse sentido e atrações surgiram nas 5 redes nacionais dirigidas a essa fatia da audiência. Mas, afinal, o que a classe C quer assistir na televisão? Mais violência, afirmam alguns executivos que utilizam esta ferramenta. Mais polêmica, garantem produtores que só sabem fazer barracos. Mas será que alguém já conversou diretamente com um representante da classe C, sem recorrer a pesquisas de opinião?
Este é o ponto fundamental de toda essa discussão. Numa guerra cada vez mais feroz pela audiência, os executivos só enxergam o veículo a partir de pesquisas, justamente para que não errem e, caso ocorra a falha, possam culpar os dados apontados nos relatórios dos institutos de estudo. Ninguém mais ouve a sensibilidade, o público, conversa com o pessoal de casa, do bairro, do clube, da padaria. A impressão que se tem é que as pessoas que estão nesses locais não assistem televisão e, portanto, suas opiniões não são válidas sem a análise de um especialista em pesquisa. Mas é justamente nessa conversa que surgem boas ideias ou pelo menos o caminho.
Ouço muito porque de cada observação é possível tirar uma lição e encontrar caminhos. E nesses bate-papos curtos consigo enxergar nas palavras que tudo o que o público deseja na TV é qualidade, uma linguagem mais popular, conversa direta entre apresentadores e telespectadores e se reconhecer no que assiste. Simples, sem pesquisas!
Ah… e vamos deixar claro que não sou contra pesquisas; elas são importantes, mas apenas uma ferramenta na construção de uma grade. A sensibilidade de quem faz a arte da TV ainda é o principal combustível da máquina de fazer sonhos.